Na guerra pelo trono do trap, uma figura da realeza está conquistando súditos fiéis e grandes pedaços de terra. Com apenas 24 anos, a cantora Duquesa – nascida Jeysa Ribeiro – é o principal nome feminino do gênero musical urbano atualmente.
O show de abertura da turnê do álbum Taurus vol.2 é uma prova disso. A apresentação ocorreu na Audio, uma das principais casas de eventos da cidade de São Paulo, na madrugada de 17 de agosto.
Os fãs estavam eufóricos. Às 22h do dia 16, uma hora após a abertura dos portões e três horas antes do início do show, chegar próximo ao palco já não era mais uma possibilidade.
Quando a apresentação começou, às 1h30, Duquesa vestia um maiô preto e uma meia-calça arrastão. O palco da Audio era iluminado por luzes vermelhas, e, ao fundo, via-se uma estrutura no formato do símbolo do signo de touro, tema do álbum.
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O local, que tem capacidade para mais de 3 mil pessoas, lotou. A plateia cantou as músicas da artista a plenos pulmões, palavra por palavra. Pularam, gritaram e dançaram em todos os momentos.
Esse nível de emoção é normalmente destinado a artistas já consolidados. Duquesa, no entanto, é uma revelação recente na indústria musical e tem pouco a ver com São Paulo.
A cantora fala sobre sua origem na música Milionário e José Rico – uma parceria com o cantor de trap Jovem Dex, nome artístico de David Sá Duarte. Na canção, o verso “Eu e o D [apelido de Jovem Dex] é sete cinco” é repetido quatro vezes. O número é o DDD da cidade de Feira de Santana, que fica no interior da Bahia.
“Eu e o D é 75”
Feira de Santana fica a 100 quilômetros de Salvador. Antes, a maioria da população era formada por feirantes, mas o setor industrial teve um rápido e forte crescimento no município nos últimos anos.
Além de se destacar como polo industrial, Feira de Santana se tornou, recentemente, um núcleo de produção de trap. Duquesa e Jovem Dex nasceram e cresceram na cidade.
Mas Feira de Santana não é o único município do interior da Bahia que se destaca por ser um gerador de trappers, como são chamados os cantores de trap:
- O município de Jacobina, no extremo norte da Chapada Diamantina, a 330 quilômetros de Salvador, é o berço de Teto, nome artístico de Clériton Sávio. O jovem tem 6 milhões de ouvintes mensais no Spotify e faz parte do 30PRAUM, selo de Matuê, maior astro do trap brasileiro.
- Ryu, The Runner é de Vitória da Conquista e co-autor da música Qual é o seu desejo?, uma parceria com o cantor TZ da Coronel que chegou ao primeiro lugar do ranking das músicas mais ouvidas no Spotify Brasil.
- Brocasito é de Juazeiro, cidade do norte da Bahia. Suas faixas acumulam mais de 10 milhões de acessos em diversas plataformas de streaming.
- Omni Black, jovem que se apresentou duas vezes no Rock In Rio, é feirense, assim como Duquesa e Jovem Dex.
Descobrir que artistas do trap são do interior pode causar surpresa em algumas pessoas. Allysson Garcia, professor de história na Universidade Federal de Goiás e pesquisador de hip-hop no interior do Brasil, explica o porquê: “A indústria cultural e o poder político estão concentrados no Sudeste. Isso faz com que pareça exótica a emergência de uma musicalidade futurista ter uma presença forte no interior”.
Mas, afinal, o que é trap?
O trap é um subgênero – ou melhor, o filho rebelde – do rap. Apesar de ter algumas características similares às do pai, o trap deixa as batidas do hip-hop de lado e incorpora o uso de sintetizadores, moduladores de voz (AutoTune) e influências da música eletrônica.
Se no livro de Efésios, da Bíblia, o sucesso é garantido para quem honra o pai, na história do trap, o texto sagrado não se confirma. Ao mudar as letras, o instrumental, a harmonia, o ritmo e até o modo de se vestir do rap, o subgênero conquistou uma legião de fãs e, hoje, bate de frente com o sertanejo, estilo de música mais ouvido no Brasil.
Outras três características do trap são o uso de baterias eletrônicas, como a Roland TR-808, responsáveis pelos graves potentes, as explosões de hi-hat, também conhecido como chimbal ou prato de bateria, que fazem sons semelhantes a “tss”, e os ad-libs, que podem ser interjeições, palavras, sons silábicos ou frases curtas entre os versos, como “skrrt skrrt!”
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Quando falamos de composição, o personagem principal das músicas do trap é um jovem pobre que, com a benção divina, tornou-se rico, quer o bem dos seus amigos e fugir de pessoas invejosas.
Tamiris Coutinho, pesquisadora de funk e trap na Universidade Federal Fluminense, aponta que a origem do artista também é um assunto recorrente: “O marcador do lugar é um elemento estético muito importante. É sobre mostrar de onde você veio e qual lugar você representa nos espaços que ocupa.”
A bancária e fã de trap Thalita Alves concorda. Bem humorada, a moradora de Itapevi, a oeste da capital paulista, diz: “acho maravilhoso eles falarem de onde vieram. É como se eles estivessem se conectando com suas raízes até como forma de incentivo”.
O gênero musical – desenvolvido em 1990, em Atlanta, capital da Geórgia, nos Estados Unidos – migrou para o Brasil na década de 2010. “O trap começou a se desenvolver no país por meio de cenas locais específicas”, explica Coutinho.
O título de “fundador do trap no Brasil” é atribuído ao cantor paulista Raffa Moreira, já que ele foi o primeiro a furar a bolha e colocar o ritmo em evidência no país, ainda em 2015. No entanto, alguns experimentos com o gênero foram realizados no Brasil antes do sucesso de Raffa.
O baiano MC Zidane, por exemplo, lançou o álbum Trap (Trabalho, Respeito, Atitude e Poder) em 2014, carregado de influências das músicas de Atlanta. Outro precursor é o DJ Alle-X, que depois liderou o coletivo de DJs TrapFunkAlivio.
A popularização do trap brasileiro e a sua prática aconteceram por causa de três principais fatores: a força já existente do hip-hop no país, a internet, que democratizou os processos de produção e divulgação de músicas, e a prosperidade econômica e social nos governos do PT. Como a aquisição de bens e ascensão social são temas recorrentes no trap, o ritmo se tornou a trilha musical de jovens nesse contexto nacional e foi ganhando cada vez mais espaço no mercado musical brasileiro.
Em junho de 2023, o subgênero do rap desbancou o sertanejo como gênero mais ouvido na playlist Top Brasil do Spotify, que reúne as músicas mais tocadas no país.
No interior da Bahia
A ascensão do ritmo acontece nos centros econômicos e no interior do país quase que ao mesmo tempo, segundo Allysson. “Esse desenvolvimento depende dos equipamentos técnicos e tecnológicos da indústria musical, e a apropriação deles ocorreu quase que simultaneamente em diferentes regiões do país.”
O rapper ErriVance acompanhou de perto a evolução do trap no interior da Bahia. Natural de Piritiba, cidade que fica a 321 quilômetros de Salvador, Roger Vance faz pós-graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde participa de projetos ligados ao hip-hop. “Depois de 2014 foi quando aconteceu o boom do rap e do trap na Bahia”, conta.
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Os motivos por trás disso são as rodas de rimas locais e o lançamento da música Sulicídio, dos rappers Baco Exu do Blues e Diomedes Chinaski, em 2016. “Para a gente, a mensagem chega como uma forma de inspiração. Através do rap, desses caras que pavimentaram a cena, é que, hoje, o trap existe”, afirma ErriVance. Na canção, os artistas falam sobre a cena nordestina e criticam rappers do eixo Rio-São Paulo.
“Foi nesse período que comecei a rimar, inicialmente em Feira de Santana, onde tive contato com a roda de freestyle Sexta-feira Lírica. Lá, pude observar outras pessoas aprendendo a rimar, como o grupo Sincronia Primordial e a cantora Duquesa.”
Para Roger, o movimento hip-hop em Feira de Santana está ligado às vagas de emprego na cidade, que atrai a juventude baiana. “Essa mistura de pessoas pode ter sido um fator importante para Feira se tornar um polo cultural.”
Em 2015, ErriVance mudou-se para Jacobina e fundou a roda de rima Batalha do Céu e os eventos Rap Night e Bruxaria74. Com o ingresso na UFRB, em 2017, o rapper foi para Cruz das Almas, município do Recôncavo Sul conhecido por sua festa de São João, e continuou a frequentar rodas de rima.
“Depois disso, muitos MCs surgiram e o pessoal começou a lançar música no YouTube. A galera que rimava nas batalhas de rima passou a querer produzir músicas em estúdios e lançar clipes no YouTube.”
Allysson avalia que, no interior do Brasil, há o consumo de trap, mas a produção fica quase que restrita a algo mais caseiro.
“Aqueles que querem dizer algo, que se identificam e se apropriam dessa forma musical, conseguem inserir suas produções na internet, seja no YouTube – inclusive com videoclipes de baixo orçamento –, seja nas plataformas de streaming”, diz. “A maior dificuldade, no entanto, está em furar a bolha dessa estrutura econômica.” Para ErriVance, a falta de investimento é o principal obstáculo para o crescimento do gênero musical na região.
“Tava faltando um mano igual eu”
Ryu, The Runner, nascido em Vitória da Conquista, município do interior e sudoeste do estado baiano, é um dos trappers que conseguiram superar as barreiras e conquistar sucesso no gênero.
Xará do autor desta reportagem, Ryu é, na verdade, Ryan Gonçalves Vitalino. O cantor não sabe de onde veio “Ryu”, mas “The Runner” (“o corredor”, em inglês) surgiu porque o baiano precisou de velocidade para equilibrar estudos, trabalho, namoro e música na adolescência. A adoção do aposto especificativo é inspirada no rapper estadunidense Tyler, The Creator.
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A reportagem conversou com Ryu pelo Google Meet. O artista de 22 anos, que já afirmou ser tímido, não abriu a câmera, pois estava com problemas no seu notebook.
– O que você lembra da sua infância em Vitória da Conquista?
– Lembro de brincar na rua, da minha família, da casa onde eu morava. O que eu não lembro, minha mãe e meu pai contam – respondeu Ryu, ainda acanhado.
– Você morava em qual bairro?
– Eu morava na Urbis IV. Era um bairro em que as casas eram parecidas e o chão era de paralelepípedos. Depois, morei no Bairro Brasil, com várias casas juntas. Morávamos eu, minha mãe e minha avó na última casa, e, à frente, moravam minha tia e outras pessoas que eu nem conhecia.

Urbis é uma sigla para a empresa Habitação e Urbanização da Bahia S.A, responsável pela implementação de casas populares em várias cidades baianas.
O conjunto em que Ryu morou fica na periferia da zona oeste de Vitória da Conquista. O bairro de casas baixas – que continua com ruas de paralelepípedos – tem um canal de drenagem, apelidado pelos moradores da região de “valetão”. A construção foi realizada para resolver problemas de enxurradas e alagamentos, mas acabou se tornando sinônimo de acúmulo de lixo, esgoto a céu aberto e mau cheiro.
O Bairro Brasil, por outro lado, possui vários comércios e é visto como uma região de famílias que ascenderam socialmente.
– Entre os sete e oito anos, você saiu de Vitória da Conquista. Por quê?
– Minha mãe teve alguns problemas com meu pai e queria sair de lá. Ela não conhecia ninguém e não tinha nada. Eu fiquei na Bahia até ela conseguir alugar uma casa – ao falar de sua família, Ryu começou a se soltar – Minha mãe teve minha irmã mais velha com 15 anos, tá ligado? O bebê não era do meu pai, era de outro cara. Aquela história padrão: engravidou e sumiu. Minha mãe sofreu muito com isso. Imagina: 15 anos, grávida e cidade pequena. Minha mãe é muito guerreira.
– E seu pai? Em outras entrevistas, você costuma dizer que ele é “gangster”.
– Meu pai é cheio de histórias. Nós brincamos que ele é tipo gangster, porque ele é muito ’das ruas’. Lá onde morávamos, ele tinha a fama de brigão, ninguém mexia com ele. Hoje é engraçado falar disso, mas na época era foda.
– Você lembra o que os seus pais escutavam de música durante sua infância?
– Minha mãe nunca foi muito ligada à música. Ela escutava mais umas paradas da época, pagode e axé… Hoje em dia, ela escuta mais gospel e minhas músicas. Meu pai já era mais do reggae e do rap, tá ligado?
– Então, foi daí que surgiu sua paixão pelo rap?
– A minha paixão pelo rap é bastante do meu pai, mas também do meu tio. Porque, mano, meu pai não vivia muito comigo. Quando vim para São Paulo, minha tia começou a namorar com o cara que virou meu tio. Ele me buscava na escola às vezes, e, no carro dele, sempre tocava rap.

– Você tem algo da Bahia? Algum item ou costume que você ainda traz até hoje?
– Mano, eu tenho um uniforme do Esporte Clube Bahia que era do meu vô. Ele me deu quando eu era criança. É um bagulho que eu guardo com carinho… O sotaque, eu perdi. Eu sofri muito bullying em São Paulo, aí, para não ser zoado, comecei a falar igual os moleques da minha sala.
Na verdade, escondido no meio de repetições de gírias paulistas, Ryu ainda carrega uma característica do sotaque baiano: o “r” aspirante, que ocorre quando o som é produzido com uma leve aspiração. Na maioria de suas músicas, o fonema se faz presente.
– O sotaque nunca foi uma questão na minha carreira. Mas a zoeira sempre rola, tipo o jeito que eu falei “Warner” na música SUV. Muita gente me zoou. Hoje eu levo de boa, mas é coisa que na infância incomodava muito mais.
– Quando foi o seu primeiro contato com o trap?
– Não lembro exatamente, mas foi pela internet, porque onde eu estudava ninguém escutava trap, só funk. Eu era tipo o esquisitinho. Quando tentei mostrar trap para os moleques, eles mandaram um “sai daqui, mano. Trap? Tá doido?”.
– Você lembra qual foi a primeira música ou artista?
– Acho que foi MC Igu, sabe? Já o primeiro show de trap que fui foi do Raffa Moreira, em 2017. De trap no Brasil, mano, eu entendo, porque eu acompanhei os caras desde o começo.

“Eles estão chateados porque o baiano manda em SP”
Ryu aplicou em suas produções todo esse conhecimento que apresenta. Ele começou a fazer beats de traps e criar músicas para pequenos artistas aos 13 anos, nos bairros de Vila Prudente e Vila Ema, em São Paulo. Em 2020, iniciou oficialmente sua carreira como cantor.
O trapper alcançou o sucesso quando lançou o seu primeiro mixtape, Essa é a Vida de um Corredor (EVDC), em 2023. O reconhecimento na cena também está ligado ao flow único do artista e aos ad-libs, que chegaram a ser copiados por outros cantores.
O conquistense lançou outra versão da mixtape ainda em 2023, a qual nomeou de EVDC DELUXE. Já o primeiro álbum de Ryu, o SEMRÉH, saiu neste ano. O título é o nome Hérmes, deus da velocidade na mitologia grega, ao contrário.
O disco recebeu uma versão deluxe chamada SEMRÉH (FINAL SPRINT), assim como a mixtape. Além de Veigh, Major RD, BK, AJULIACOSTA, WIU e Vulgo FK, o projeto tem a participação dos baianos Duquesa e Teto.
– No SEMRÉH, você faz questão de dizer que é baiano. Por quê?
– Quando cheguei aqui, vi muito preconceito dos paulistas. A galera fazia muitas piadas. E não é só com pessoas da Bahia, é com qualquer um do Nordeste. – diz, com indignação. – A maioria dos meus ouvintes são de São Paulo. Quero que eles vejam que ser baiano é foda, não é nada disso que falam por aí: “baiano é preguiçoso”, “baiano é feio”, “baiano não sabe se vestir”… É minha forma de tentar quebrar esses estereótipos.
– Você acha que ser baiano fez você se destacar no trap?
– No começo, eu fazia música tentando imitar os caras de São Paulo, e não dava certo. Só funcionou quando comecei a usar minha própria voz, meu sotaque, minhas referências. Percebi que ser eu mesmo fazia diferença. Também me inspirou o álbum ÉTPM, do Jovem Dex. Foi a primeira vez que vi o Nordeste tão bem representado no trap, e pensei: “Mano, esse é o caminho. Dá pra ser diferente e foda ao mesmo tempo”. Quando perdi a vergonha de ser baiano e comecei a usar isso nas minhas músicas, deu certo.
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– Como foi para você conquistar o sucesso?
– Eu sempre fui meio invisível. Eu sentia que não tinha voz, que eu era só mais uma pessoa, sem nada de especial. Quando comecei a fazer música e o bagulho começou a dar certo, foi como se eu tivesse encontrado meu lugar, tá ligado? Eu comecei a ter autoestima e a me achar mais da hora.
– Voltando para o assunto música, o verso “eles estão chateados porque o baiano manda em SP”, no refrão de Eles me Odeiam, que tem a participação de Duquesa e AJULIACOSTA, sempre chamou minha atenção. O que te motivou a fazer a canção? Qual é a história?
– A música é sobre essa parada de eu ser de outro lugar, tá ligado? De eu ter surgido “do nada” e estar fazendo mais sucesso que alguns caras de São Paulo. As minas na música, especialmente a Duquesa, por ser da Bahia, representam muito bem a ideia da faixa. Para os outros caras é mais fácil e, mesmo assim, eles não conseguiram chegar no mesmo patamar que nós. Quando fiz a música, já sabia que queria chamar a Duquesa. Depois pensei: “Vou mandar para a AJULIACOSTA também”.
– Você, Duquesa e Teto já conversaram sobre os três serem do interior da Bahia? Rolou uma identificação?
– Eu conhecia o trabalho da Duquesa há um tempo, antes mesmo de eu ganhar mídia. Nós crescemos juntos na cena, subindo de pouquinho a pouquinho, e eu sabia que ela era baiana também, então tinha que rolar essa parceria. Também sinto muita identificação com o Teto, porque ele é de Jacobina. Minha mãe já morou lá quando era mais nova, e, quando descobri isso, troquei ideia com ele.
– Desde que você se mudou de Vitória da Conquista, chegou a visitar a cidade?
– Mano, eu não voltei lá ainda, acredita? Já fui para vários lugares da Bahia, mas para Conquista não. Não tinha dinheiro para ir e também estava sempre com pouco tempo. Agora que estou fazendo música, tô vendo de voltar.
– Para encerrar, qual sua parte favorita da Bahia?
– Um dos melhores shows que já fiz foi na Bahia. Tenho um carinho especial pelos meus fãs de lá, porque sinto que eles se identificam muito comigo. Os caras são muito fãs mesmo. Eles curtem o show de um jeito diferente, até mais do que as pessoas aqui de São Paulo. A Bahia é sempre mais animada, as pessoas são mais vivas.
O que toca nas caixas de som
De acordo com dados do Spotify, o trap foi o quarto gênero musical mais ouvido em 2023 em Salvador. No ranking de São Paulo, o ritmo ocupa a quinta posição. A plataforma diz não ter dados de cidades do interior da Bahia.
A assistente administrativa Giselle Coelho, de 19 anos, é uma das ouvintes de trap da cidade soteropolitana. Quando questionada sobre a origem dos artistas, Giselle diz não se importar, mas acha “maravilhoso” quando os trappers falam sobre a cidade em que nasceram.
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Os ouvintes do gênero, porém, não se prendem aos artistas de seus estados. Giselle, por exemplo, acompanha a cena feminina paulista. Já Giulia Kathleen, osasquense e estudante de lazer e turismo na Universidade de São Paulo, curte trappers do nordeste.
“Gosto de ouvir trap daqui de São Paulo, porque fala sobre a nossa cultura. Da mesma forma, também quero conhecer as demais regiões e entender o que outras culturas têm a dizer através da música”.
Uma das razões que permitem esse acontecimento é a internet. Todos os artistas que Giulia, Giselle e Thalita Alves acompanham foram descobertos por elas nas redes sociais ou plataformas de streaming.
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Outro motivo para essa conexão, segundo o professor Allysson Garcia, é que os jovens brasileiros compartilham interesses e questões similares, independentemente do lugar em que vivem.
Tamiris Coutinho concorda: “Mesmo que no Rio de Janeiro, São Paulo e em Feira de Santana existam dinâmicas específicas, sabemos que muitas temáticas nos atingem da mesma forma, como desigualdades, opressões, sonhos e lazer”.
Não é surpreendente, então, que casas de shows lotem quando o nome de Ryu, Jovem Dex, Teto ou Duquesa são anunciados.