Gênero e islamofobia no Brasil

“Não é considerado um verdadeiro muçulmano aquele que não deseja para o seu irmão o que deseja para si mesmo”. As palavras do Sheik Mohamad Al Bukai, que vive no Brasil há 16 anos, descrevem um dos principais preceitos do islamismo: amor ao próximo. Porém, o ódio e a violência decorrentes da islamofobia marcam a vida de muçulmanos que vivem no país. 

A islamofobia se manifesta acompanhada de outras hostilidades, como a violência de gênero. As mulheres são as principais vítimas de violência da islamofobia, segundo o Primeiro Relatório de Islamofobia no Brasil, produzido por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP e coordenado pela Dra. Francirosy Barbosa. 

“Muitas mulheres alteraram a sua vestimenta por conta das violências que vêm sofrendo”, destaca Francirosy Barbosa. Uma vestimenta característica não é exclusividade do islamismo: mulheres da comunidade pentecostal também usam roupas seguindo os preceitos da religião. Mas uma cristã, por exemplo, pode usar suas vestimentas tranquilamente na França, enquanto mulheres islâmicas são coibidas pelo Estado de usar o Hijab (véu sagrado islâmico).

Segundo a pesquisadora Natália Neme Carvalhosa, islâmicos de países africanos sofrem ainda mais preconceito, já que enfrentam a islamofobia e também o racismo. “Mesmo em momentos de descontração a islamofobia é presente. A violência nem sempre é física, às vezes vem por brincadeiras islamofobicas acusando-os de terrorismo”, pontua Natália. 

Em 2010, os brasileiros natos representavam 70% da população muçulmana do país. Esta proporção é explicada pela formação de
famílias de imigrantes em solo nacional desde meados do século 20, além da conversão crescente de brasileiros ao Islã.

Os conflitos na região da faixa de Gaza são eventos gatilhos para manifestar um preconceito que já existia antes da guerra. De acordo com dados da Segunda Edição do Relatório de Islamofobia no Brasil, um dia após o conflito tomar conta dos noticiários, já houve aumento dos casos de violência sofrida em público por muçulmanos.

Se por um lado a imprensa pode informar e contribuir para a desconstrução de preconceitos, por outro a mídia pode estimular a violência e reforçar estereótipos contra muçulmanos. “A maneira como você divulga a notícia gera também muito desconhecimento em relação a essas populações e portanto gera também islamofobia”, ressalta a Dra. Francirosy Barbosa.

Mesquita da Misericórdia Sobem, localizada em São Paulo. O
estado paulista concentra 42% dos muçulmanos no Brasil.

A islamofobia, assim como outras manifestações violentas, geram um espiral de violência que impossibilita o bem estar coletivo. O Sheik Mohamad Al Bukai explica que no Islã “toda humanidade é considerada uma família só, como se toda humanidade fosse parte de um mesmo corpo”. Esse mandamento do islã, é capaz de exemplificar o fato de que cada ação social gera um impacto em toda a sociedade.