Não contavam com a astúcia de Roberto Bolaños

O que é necessário para adentrar os rincões da América Latina onde nem mesmo um homem de aço tem coragem de adentrar? Astúcia.

Essa é a virtude primordial da criação do mexicano Roberto Gómez Bolaños, o Chapolin Colorado. O personagem estreou no programa de esquetes do Chespirito, comandado por Bolaños, em 1970, e foi tão bem aceito pela audiência que não tardou em ganhar seu próprio programa, em 1973. 

O herói é uma paródia e, ao mesmo tempo, uma resposta ao abandono sofrido pelo povo latino-americano. Enquanto super-heróis viviam a glória da era de prata dos quadrinhos nas grandes metrópoles dos Estados Unidos, quem seria o campeão dos  esquecidos ao sul do continente americano?

“O Chapolin pode não ser o melhor ou mais forte, mas está ali por você no momento de necessidade, porque ele se importa em ajudar quem precisa, sem distinção; não é sem motivo que o coração é o brasão dele, pois é seu maior poder, um coração de ouro”, afirma Carlos Aguasaco, professor de estudos culturais latino-americanos na Universidade da Cidade de Nova York.

De acordo com Aguasaco, as virtudes do herói ficam explícitas quando comparadas ao Super Sam, paródia do tão famigerado sonho americano,cuja frase mais icônica é Time is money!

O alcance que teve do personagem também teve uma pitada de sorte ao se aproveitar do boom das fitas cassetes que permitiu a distribuição do programa rapidamente das encostas de Serra Madre até os confins destas terras tupiniquins.

 O efeito do Chapulín é presente até hoje na cultura pop, o mais recente em Besouro Azul, primeiro filme da DC protagonizado por um super-herói latino-americano, onde o Polegar Vermelho contracena com o protagonista do filme na cena pós-créditos, como uma homenagem meio século depois de sua criação ao primeiro super-herói latino-americano.