Nordeste e Sudeste lideram geração de energia solar no País entre 2017 e 2022, mostram dados da EPE

Imagem: Freepik

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Maior incidência solar e demanda nos domicílios pela matriz explicam a predominância das regiões

Por Letícia Naome

O Nordeste e o Sudeste produziram a maior quantidade de energia elétrica provinda de fonte solar de 2017 a 2022, totalizando 31.184 gigawatts-hora (GWh) e 22.200 GWh, respectivamente. O valor significativo pode ser explicado pelas especificidades regionais, incentivos fiscais, menor custo das placas fotovoltaicas e a busca por um menor impacto ambiental na geração de energia elétrica. Houve algum avanço no Sul (8.064 GWh), Centro-Oeste (5.334 GWh) e Norte (1.822 GWh), porém, menos expressivo. O levantamento foi feito pela reportagem com base em dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

No mesmo período avaliado, os Estados que tiveram maior produtividade energética fotovoltaica foram Minas Gerais (12.579 GWh), Bahia, (11.509 GWh), São Paulo (7.798 GWh), Piauí (7.690 GWh) e Ceará (4.265 GWh). 

Segundo a vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Abens), Marília Braga, no Nordeste e no Norte de Minas, a menor latitude em relação ao equador, além de condições climáticas favoráveis – com menos nuvens e tempo mais seco –, levam a uma   alta incidência solar. Com isso, há maior viabilidade econômica para a geração de energia solar.

Os locais também concentram a geração centralizada, em que são utilizadas usinas fotovoltaicas. Somente Minas Gerais, Bahia e Piauí detêm 70% da produção do tipo, destaca o superintendente de Geração de Energia da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Bernardo Folly de Aguiar. “Outros fatores são importantes para a escolha desses locais, como a oferta de área para construção da usina, menor risco de impacto ambiental e disponibilidade de conexão à rede.”

Já no Sudeste, apesar da menor incidência solar, com exceção do norte de Minas, há um domínio da geração distribuída – que ocorre nas casas, comércios e indústrias. “Isso se deve ao grande número de domicílios nesses estados, associado à alta renda per capita, além de alguns incentivos estaduais específicos”, afirma Aguiar.

Geração de energia solar em GWh por regiões brasileiras (2017-2022)
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Vale destacar que o registro feito pela EPE começa em 2011. Porém, para o caso da matriz energética solar, somente a partir de 2017 é possível observar alguma geração de eletricidade considerável.

Produção nacional

A produção de energia solar nacional em 2017 foi de 832 GWh, enquanto em 2022 a geração foi 36 vezes maior, totalizando 30.126 GWh. O aumento expressivo ocorreu – além das especificidades locais, da procura por um menor impacto ambiental e de incentivos fiscais – por conta do barateamento mundial da energia solar. “Ela vem principalmente da produção em escala. O aumento da produção fez com que isso ficasse cada vez mais barato e, também, muitos avanços científicos e tecnológicos”, observa Marília Braga. 

Outros fatores que também podem ser levados em conta para ter ocorrido o avanço da matriz no País são a “contratação de energia através de leilões” e o “estabelecimento de regras para conexão de pequenos consumidores para injeção de energia na rede em troca de créditos”, explica o especialista da EPE. 

Sobre essa troca de créditos, desde 2012 houve um incentivo que aumentou o interesse da população em produzir energia solar e, com isso, reduzir a conta de luz. “No entanto, em 2022 foi aprovada a Lei n° 14.300/2022 que prevê uma redução gradual dos incentivos para os novos geradores a partir de 2023”, afirma Aguiar.

Apesar do crescimento significativo, a energia solar continua muito atrás de outras fontes. A energia eólica, por exemplo, totalizou 81.632 GWh produzidos em 2022, quase o triplo da solar na mesma base de comparação. 

Já na hidráulica – de usinas hidrelétricas – observa-se uma diferença ainda mais discrepante: no mesmo período, a matriz, que é a maior provedora de energia do Brasil, gerou 677.173 GWh. “O Brasil sempre foi dependente das usinas hidrelétricas, muito devido ao enorme potencial do país e à maturidade tecnológica dessa fonte”, lembra o especialista da EPE.

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Perspectivas 

Os especialistas apostam em um crescimento contínuo da energia solar nos próximos anos. Porém, não há um horizonte claro sobre quando a matriz energética poderá ser tão relevante quanto a hidráulica. 

Marília Braga vê que a geração de eletricidade fotovoltaica entrará como “nova energia”, tendo em vista as barreiras para a construção de novas usinas hidrelétricas, como os impactos ambientais e sociais. 

“A energia solar, vindo como uma alternativa barata, uma energia mais barata até do que a hidrelétrica, vai ser muito atrativa. E no quesito de nova energia, que vai ser contratada para expansão da nossa capacidade de geração, ela deve ser majoritariamente solar”, afirma a vice-presidente da Abens. “Por causa disso, eventualmente, a gente vai conseguir ultrapassar, em termos de energia gerada, as hidrelétricas”, conclui.

Para Julio Romel Bolaños, pós-doutorando do Instituto de Energia e Meio Ambiente da USP e especialista em energias renováveis eólica e solar, o crescimento da matriz energética solar ocorrerá, mas não a curto prazo, e será mais modesto no futuro por conta das limitações. 

Na geração centralizada, mais investimentos nas linhas de transmissão do Brasil precisarão ser feitos. As subestações e linhas de transmissão, principalmente no Nordeste, “não comportam toda a potência gerada pelas usinas solares”, avalia Bolaños.

Já na geração distribuída, a expansão esbarra na limitação dos sistemas de distribuição de energia elétrica, que “não são projetados para suportar fluxo de potência bidirecional”, diz.

“As redes de distribuição deverão se tornar cada vez mais complexas e demandarão o emprego de tecnologias sofisticadas de automação, controle e monitoramento remotos, que possibilitem o aumento da quantidade e da qualidade das informações (relativas à operação dos sistemas fotovoltaicos) compartilhadas entre os donos da geração fotovoltaica e a distribuidora de energia elétrica”, ressalta o especialista.