Discos de vinil movimentam indústria fonográfica durante a pandemia

Apesar de plataformas de streaming ganharem força, as vendas de LPs cresceram 94% no primeiro semestre de 2021

Por Laura Alegre

Em 2020, o mundo parou. As rotinas repetidas à exaustão tiveram que ser
repensadas para funcionar dentro de um ambiente doméstico. No caso dos profissionais da
saúde, somou-se ainda mais responsabilidade e cansaço para tentar lidar com o avanço de
uma doença cuja cura ou vacina ainda não tinham perspectiva de serem encontradas. A
ciência acontecia (e continua acontecendo) em tempo real. Cada atualização do boletim do
número de casos no jornal local deixava um sentimento de angústia em quem assistia,
acompanhada daquela dúvida que se embrenhava lá no fundo do subconsciente: será que
a vida vai ser assim para sempre de agora em diante?

O Brasil, que já estava lascado antes mesmo de Gil do Vigor praticamente patentear
essa frase, se viu em um cenário quase que distópico. Um ano depois do início da
pandemia de Covid-19, chegamos ao triste número de mais de 600 mil mortos,
consequência de políticas públicas inexistentes. Além disso, negócios nas áreas de
alojamento, alimentação, fabricação de peças de veículos, bem como outras atividades
econômicas que dependiam da presença física do consumidor ou de uma demanda
baseada na rotina da “vida normal”, também sofreram com prejuízos que testaram a
habilidade de qualquer administrador para continuar com seus serviços funcionando na
medida do possível.

Entre eles, e em primeiro lugar da lista da Secretaria Especial de Produtividade,
Emprego e Produtividade do Ministério da Economia (Sepec/ME) divulgada em setembro
sobre os setores mais afetados pela pandemia, estão as atividades artísticas, criativas e de
espetáculos. Esta repórter sentiu isso na pele: tinha mais de 10 ingressos para shows
internacionais que aconteceriam em 2020, e todos eles foram cancelados ou adiados para
uma data que, até o momento da escrita deste texto, não foram divulgados. Em suma,
vendo a partir dessa perspectiva, quem gosta de música perdeu dinheiro – tanto quem
trabalha na indústria em si, quanto quem faz parte daquele grupo de fãs que prioriza a
performance ao vivo para se sentir conectado ao artista.

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No entanto, apesar das circunstâncias estarem bem longe das ideais no ano
passado, foi justamente a música que proporcionou entretenimento, conforto, identificação e
até mesmo um pouco de esperança durante os momentos mais conturbados da pandemia.
E, na ausência dos shows, foi possível perceber o crescimento de outras formas de
consumir música para além da performance ao vivo e das principais plataformas de
streaming, como YouTube, Spotify e Deezer.

Em contraste à acessibilidade e à rapidez de se poder ouvir música pela internet a
hora que quisermos, o que se viu, não só no Brasil como também em escala mundial, foi o
ressurgimento de uma mídia que data dos anos 1940, que passou por momentos de auge e
decadência, e que encontrou nos últimos anos uma força de mercado significativa, inclusive
durante o período de isolamento social. Contrariando quaisquer expectativas de que a
plataforma se tornasse obsoleta, os discos de vinil voltaram com tudo e recordes de
vendas foram batidos pela primeira vez em uma década.

Quem contribuiu para essa quebra de recordes neste ano foi a cantora Taylor Swift,
responsável pela melhor semana de venda de vinis desde 1991 com o lançamento de seu
álbum “evermore” em formato LP, tendo 102 mil unidades vendidas em sua semana de
lançamento em 2021, segundo a MRC Data (antiga Nielsen). Logo atrás no ranking desse
recorde vem uma artista de apenas 18 anos, mas que já conquistou a indústria de forma
impressionante valendo-se de hits que viralizaram nas redes sociais: Olivia Rodrigo.

Segundo o site Hits Daily Double, o vinil de seu álbum de estreia, “Sour”, que foi lançado
oficialmente em agosto de 2021, vendeu 80 mil unidades nos primeiros sete dias. Em
terceiro lugar do pódio fica Billie Eilish e seu álbum “Happier Than Ever”, lançado no final de
julho de 2021, e que somou mais de 73 mil cópias em LP vendidas.

Embora não seja de hoje que os vinis estejam vendendo tanto, os números de 2020
e 2021 são bastante significativos. Dados divulgados pela Associação Americana de
Indústria de Gravação (RIAA) em relatório anual de receita de 2020 apontam que as vendas
de vinil aumentaram 29,2% em relação a 2019. Já as últimas informações que constam no
relatório de meio de ano da mesma instituição, o MID-YEAR 2021 RIAA REVENUE
STATISTICS, indicam que a receita vinda da compra de álbuns em vinil aumentou em 94%
no primeiro semestre de 2021 em comparação a 2020, registrando um valor de US$467
milhões.

Porém, ainda segundo a RIAA, em contraposição ao crescimento contínuo da venda
de mídias físicas, a principal fonte de receita para a música gravada em 2020 foi o
streaming – formato também considerado responsável pelo crescimento da indústria

fonográfica pelo quinto ano consecutivo. A participação desse ramo atingiu 83% da receita
total em 2020 e teve um crescimento de 13,4% em relação ao ano anterior.

Mas então por que os LPs também continuam crescendo, considerando que uma
forma mais barata e conveniente como o streaming é mais rentável para a indústria
fonográfica e mais acessível ao ouvinte? Vamos acompanhar a história de dois
personagens para tentarmos desvendar os diferentes aspectos que contribuem para esse
fenômeno, no qual uma tecnologia, embora antiga, continua firme e forte em meio a uma
sociedade integrada e já acostumada ao digital.

Paixão pelo vinil

O disco de vinil (também chamado de LP ou Long Play, abreviação de Long Playing
Record) surgiu nos Estados Unidos em 21 de junho de 1948, data na qual o primeiro disco
de 12 polegadas e 33 1⁄3 rotações por minuto (rpm) foi lançado pela Columbia Records. A
primeira gravação da história neste formato foi a da peça Mendelssohn’s Concerto In E
Minor, tocada pelo violinista Nathan Milstein. Com o surgimento dessa nova forma de
registro sonoro, os antigos discos de 78 rpm – que existiam desde 1890, eram fabricados
com um material menos maleável e contavam com uma capacidade de duração menor que
a do vinil – entrassem em desuso, ao passo em que os LPs iam se tornando mais e mais
populares.

O vinil teve sua era de ouro entre os anos 1960 e 1980, e só conheceu o declínio na
década seguinte, 1990, com o surgimento dos CDs. Porém, a partir dos anos 2000, esses
produtos voltaram com força ao mercado. Assim, os LPs estiveram presentes na vida de
muitas pessoas de diferentes gerações.
É o caso de Henrique Maia, de 29 anos, e Wagner Gueller, de 59. Apesar dos 30
anos de diferença em idade, ambos têm muito em comum: são amantes de música e
colecionadores de vinil. Tal como a tecnologia, a paixão por música e por vinil também vêm
de longa data.

Wagner se interessou por música pela primeira vez logo na infância, ouvindo rádio.
Seu pai tinha uma tinturaria e, durante a noite, ele passava roupas escutando músicas
sertanejas em um rádio a válvula, acompanhado do menino.

A aquisição de aparelhos de som, televisões e outras tecnologias recentes para a época era muito restrita por conta do
preço elevado desses produtos, e por isso a família só teve acesso a um toca-discos
quando vitrolas menores, portáteis, também conhecidas como “caixas de cobra”, chegaram
ao mercado tendo valores mais acessíveis. Era a época do auge da Jovem Guarda, e o
primeiro disco da família, comprado pela mãe de Wagner, foi um compacto do Erasmo
Carlos. Depois, já na adolescência, Gueller começou a trabalhar e, com o dinheiro que
sobrava no mês, muitas vezes proveniente de horas extras, ele comprava discos de vinil.

A influência da família também foi um fator decisivo para que Henrique se
interessasse e pegasse o gosto pela música. Sua mãe tinha discos que ele achava
“grandes, legais e bonitos” quando era pequeno, com desenhos interessantes. O menino
considerava a capa de “Tattoo You”, da banda de rock britânica The Rolling Stones,
particularmente intrigante, e lembra até hoje de ficar admirando a arte daquela pessoa com

a face, pescoço, ombros e até mesmo as orelhas tatuadas com linhas geométricas
irregulares, que brincavam com a noção de profundidade usando faixas em diferentes
sentidos, inclusive algumas sobrepostas e curvas, dando a impressão de movimento.
Apesar da paixão pelo vinil ter nascido também na infância, Henrique só passou a
comprar discos por conta própria e formar uma coleção aos 19 anos. Atualmente, ele conta
com 95 discos em sua coleção, que fica guardada com cuidado em um espaço de seu
armário, enquanto que Wagner Gueller contabiliza cerca de 1500 LPs em sua coleção
particular, que contém até discos que ele comprou aos 12 anos de idade e que deixa
expostos e organizados em sua sala de música.

Ambos os personagens foram cativados pelo som orgânico, pela sensação de ver a
agulha tocar o disco e começar a reproduzir a canção e também por poderem ter uma
experiência diferente e imersiva ao ouvir os LPs. Por isso, eles continuam apaixonados por
esse universo e não pretendem deixar de aumentar a quantidade de álbuns que têm nesse
tipo de formato em mídia física.

A estética dos discos

Não é só o pequeno Henrique que gostava de observar as arte dos bolachões. A
parte visual dos discos de vinil, com capas grandes e chamativas, também instiga a vontade
do consumidor em adquiri-lo. Seja um LP, cujo disco tem um diâmetro de 31 centímetros, ou formatos menores como o EP e o Single, com 25 e 17 centímetros de diâmetro respectivamente, o trabalho artístico envolvido em toda a embalagem faz diferença.

Hoje em dia, artistas têm apostado na fabricação de vinis diferenciados como forma
de chamar a atenção dos fãs e dos colecionadores do formato, por se tratar de um produto
muito bonito e atrativo aos olhos. Assim sendo, viu-se nos últimos anos o crescimento do
lançamento de LPs com a mídia colorida e a disponibilização de edições limitadas com
artes diferentes da padrão para lojas específicas – isso geralmente em território norte-
americano e em grandes franquias, como Target e Urban Outfitters, além dos próprios
websites oficiais dos artistas.

Além de capas variantes, boxes com brindes oferecidos apenas em edições
limitadas também têm sido uma forma de convencer os fãs de adquirirem a mídia física de
um álbum que quase sempre já está disponível nas plataformas de streaming ou online. Um
exemplo é o próprio álbum “Tattoo You”, dos Stones. Para comemorar os 40 anos de
lançamento da obra, a banda resolveu lançar uma edição comemorativa, deluxe e
expandida, que conta com faixas inéditas e remasterizadas.

Os primeiros discos da coleção de Henrique chegaram nas mãos dele justamente
por conta dos visuais. Com ajuda de um amigo que tinha um cartão internacional, o
profissional da área do audiovisual comprou três vinis do produtor e compositor de música
eletrônica Aphex Twin. Mesmo sem ter um sistema de som para ouvir os LPs, Henrique
achava as capas tão chamativas e interessantes que esse fator foi o suficiente para

convencê-lo a comprar os produtos. E esse também foi o pontapé inicial para que ele se
interessasse em adquirir um toca-discos mais tarde, depois de juntar dinheiro para tal.

Uma experiência sonora diferente

Em uma sociedade onde o acesso a qualquer tipo de informação está literalmente
na palma da mão, disponível no smartphone com conexão à internet mais próximo, escutar
música também se tornou algo rotineiro, que não fazemos com uma atenção dedicada e
exclusiva em 100% das vezes.

Existem pessoas que não conseguem fazer nada sem uma música de fundo – esta repórter inclusa, que no momento da escrita deste texto está
ouvindo uma playlist de jazz. Henrique, que passou a trabalhar em regime de home office
desde o início da pandemia, também usa o YouTube e o Spotify para ouvir música
enquanto realiza outras atividades, e dedica um tempo exclusivo de sua semana para ouvir
seus vinis sem distrações, tomando uma cerveja e curtindo o som.

Wagner também trabalha de casa administrando sua loja online de discos de vinil,
chamada O Som do Chiado. No dia-a-dia ele alia a sua paixão de criança a seu trabalho e
sempre tem um disco de vinil tocando, independentemente do que ele estiver fazendo ou de
qual cômodo ele estiver.

Tendo essa escuta atenta ou não, o fato é que a experiência de se
ouvir um disco de vinil é diferente do que deixar uma playlist tocando ou sintonizar uma
estação de rádio. É necessário ter o cuidado de colocar a mídia no toca-discos segurando-a
pelas bordas, levar a agulha até a faixa desejada e ir até o equipamento de som para trocar
de lados quando todas as canções dele já tiverem sido reproduzidas.

Para Henrique, esse processo consiste em praticamente um ritual, no qual todas as
etapas são influenciadas por uma certa admiração pelo produto e uma ansiedade em poder
ouvir a música. Tirar o disco da embalagem, apreciar o encarte, verificar se não há poeira
na mídia que possa interferir no som, abrir a parte de cima do toca-discos, colocá-lo na
plataforma, erguer a agulha, posicioná-la e apertar o botão para que ele comece a girar e a
música comece a soar: esses passos são inerentes ao processo necessário para se ouvir
um LP, e isso requer muito mais atenção e dedicação do que clicar em uma tela para dar
play em uma música.

Ouvir um álbum em vinil pode significar um momento de introspecção e imersão em
uma obra musical, mas também pode ser algo coletivo, tanto na audição quanto na compra
desses discos. Henrique organizava encontros com seus amigos antes da pandemia para
que eles ouvissem alguns LPs juntos enquanto desfrutavam da companhia um do outro.

Ele levava um disco, um amigo levava outro e assim eles descobriam músicas novas de uma
maneira diferente. Mesmo em relação à aquisição desses produtos, o ato pode envolver
socialização e troca de ideias. Na capital paulista, por exemplo, é comum que ocorram
feiras de vinil, onde é possível comprar e trocar usados, garimpar raridades e conversar
com outros aficionados por música.

Mercado restrito, mas em ascensão

No entanto, nem tudo são flores. A pandemia impactou a realização desses
encontros presenciais de escuta e compra, e as vendas se concentraram majoritariamente
pela internet em 2020 e 2021. Com a impossibilidade de comparecer a shows e tendo um maior tempo livre presas em casa, o valor que as pessoas pagariam em ingressos passaram a ser destinados à aquisição de mídias físicas de seus artistas favoritos. O crescimento de quase 30% da receita de vendas de vinis em 2020, registrada pela RIAA, reflete o aquecimento desse mercado durante os meses de distanciamento social.

Como lojista, Wagner sentiu isso de maneira muito forte. Tendo aberto a loja no final
de 2019, ele e seu filho, que administram juntos o comércio, chegaram a parar as atividades
de março a maio de 2020, quando a pandemia de Covid-19 estava no começo e as
incertezas eram inúmeras, principalmente para uma empresa tão nova quanto a deles.

Nesse ínterim, eles abasteciam suas redes sociais com notícias e posts de curiosidades e
indicações musicais, a fim de continuar criando um público de potenciais clientes. E, quando
a loja voltou a funcionar normalmente, Wagner até se assustou com a grande demanda:
antes, eles vendiam de 10 a 15 discos por mês, e por volta de setembro do ano passado a
julho de 2021, eles começaram a vender de 50 a 60 discos mensalmente, até mais, o que é
um número expressivo para uma loja pequena.

Porém, em outubro Wagner já percebeu uma retração no mercado, pois os
consumidores já sentiram no bolso os efeitos da inflação nesse nicho. Ele conta que quem
comprava cinco discos hoje compra dois, e quem comprava um ocasionalmente já não está
mais comprando. A procura por LPs usados também aumentou, uma vez que os preços são
mais acessíveis em relação aos novos e aos importados.

Henrique se encaixa nessa descrição: ele gastava cerca de 300 reais por mês aumentando sua coleção, mas agora
teve que diminuir o ritmo, já que tudo está ficando mais caro e ele arca com os custos de uma pós-graduação e a academia também.

A indústria fonográfica também está sendo impactada pela falta de matéria prima e,
consequentemente, isso acarreta o encarecimento dos produtos finais. E esse é um
problema que afeta toda a cadeia produtiva desse segmento. Faltam materiais para fazer o
disco, depois que a Apollo, uma das maiores fornecedoras globais de acetato (substância
indispensável para a fabricação dos discos de vinil nas fábricas mundo afora), sofreu um
incêndio em fevereiro de 2020.

Essa mesma fábrica também era responsável pela produção
e fornecimento das agulhas utilizadas nas máquinas que fazem os sulcos dos discos,
característica que possibilita que as canções possam ser reproduzidas nesse tipo de mídia.

Além desse delicado cenário internacional, manter o funcionamento normal das lojas
aqui do Brasil também ficou mais caro, inclusive quando se trata dos aspectos logísticos de
transporte e empacotamento. Wagner conta que além dos próprios vinis terem encarecido
nos últimos tempos, os insumos como papelão também tiveram os preços aumentados.

Para comprar as caixas necessárias para o envio dos produtos pelos Correios, o
comerciante pagava R$2,30 a unidade, e hoje paga R$4,30, o que influencia no valor final
do produto. O dono do e-commerce também passou a trazer menos discos importados para
a loja e hoje trabalha com o que tem no estoque, porque considera os preços e taxas de
importação “impraticáveis”.

Perspectivas para o futuro

Com os preços subindo, a perspectiva de Wagner e outros parceiros lojistas dele é
de que o mercado de vinis no Brasil regrida um pouco ou, na melhor das hipóteses, se mantenha como está no momento. Mas, além dos valores altos, uma coisa que pode impactar a demanda dos consumidores por esses produtos é a volta das atividades
presenciais.

Com o avanço da campanha de vacinação no Brasil e as restrições de público
ficando menos rígidas, as pessoas estão saindo mais, indo jantar fora, beber com os
amigos que não viam há tempos e, consequentemente, gastando dinheiro com esses
compromissos. Por isso, Wagner acredita que esse também seja um fator que pode
estagnar um pouco o crescimento das vendas de vinil, já que ouvir um LP geralmente é algo
que se faz dentro de casa.

Por conta de todos esses fatores, ter condições financeiras de ter um vinil, um toca-
discos bom que entregue uma qualidade sonora decente e até mesmo o tempo de lazer
necessário na rotina para apreciar essa atividade está cada vez mais difícil. Henrique, por
exemplo, teve que pesquisar e juntar dinheiro por meses para conseguir comprar um
aparelho de som que atendesse às suas necessidades e cujo preço coubesse no seu bolso.

A preocupação dos nossos personagens é de que isso torne o acesso a essa forma de
consumir música – e, invariavelmente, consumir cultura – algo elitista, restrito a quem tem
maior poder aquisitivo.

Essa é uma questão que sempre passa pela mente de Wagner quando ele calcula
os preços dos discos que ele coloca à venda na loja. “Meu objetivo não é vender dois discos
de mil reais cada um pra fazer meu faturamento. Eu quero vender 100 discos de 20 reais.
Nossa filosofia é vender o máximo possível de LPs com o preço mais acessível,
principalmente para essa nova geração. Para o cara que trabalha e estuda, que tem um
dinheirinho ali contado e quer começar a coleção dele, mas que não pode gastar mais de
50, 60 reais por mês nessas coisas. Eu quero olhar muito para esse público, porque eu sei
como é gostoso: os vinis são um registro de uma época da sua vida, existe um apego
sentimental a eles para quem realmente gosta de música. Levar cultura para essa nova
geração é formar cidadãos. Se eu puder fazer isso e sobreviver dessa forma, é o paraíso”,
explica o lojista, que hoje trabalha com uma margem de lucro de no máximo 30% do valor
pago originalmente nos discos que encontra e adquire em leilões, lotes de colecionadores e
distribuidoras oficiais das gravadoras.

Henrique, que se enquadra no público-alvo da O Som do Chiado, também deseja
que os discos se tornem cada vez mais acessíveis em preço e disponibilidade de estoque,
principalmente para artistas e bandas do cenário brasileiro. Tendo apenas duas fábricas
nacionais, que retomaram suas atividades há pouco tempo em território nacional (a
Polysom e a Vinil Brasil), a oferta de vinis é restringida à capacidade que essas empresas
têm de fabricar e distribuir os LPs para o mercado.

Além disso, o colecionador espera que as gravadoras tupiniquins também tomem a iniciativa de vender mais mídias físicas de seus
artistas, seguindo essa tendência mundial adotada pelos grandes entertainers mundo afora.
Um álbum que ele gostaria muito que ganhasse um vinil e que ele acredita que venderia
muito se fosse lançado é o “Batidão Tropical”, da drag Pabllo Vittar, que conta com hits de
grande popularidade nas redes sociais, como as faixas “Zap Zum” e “Ama Sofre Chora”.

Esta repórter compartilha da esperança e dos receios de seus companheiros
colecionadores e agora pede licença, pois, de tanto trabalhar na realização desta pauta, não
teve tempo de ouvir suas últimas aquisições em vinil. É hora de fazer um café (ou talvez
abrir um vinho) e desfrutar de boa música. Até a próxima!

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